quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nevoeiro de Natal

"nunca mais o Natal soube a mesma coisa. Perdeu o paladar nesse ano... Apenas a foto dela era importante estar comigo... Foi o primeiro Natal sem ela... O primeiro de muitos."

O jantar na mesa, nunca a mesa estivera tão rica como naquela noite, uma noite tal igual a tantas, mas naquela noite havia algo diferente, algo que apenas se repete uma vez por ano e é de dia.
A familia juntou-se toda outra vez, todos aquecidos pela lareira, chamas vivas que aqueceram o corpo e a alma de todos... Ou será melhor dizer, quase todos. Sebastião não era amante da época natalícia, desprezava-a de uma maneira fria, mais fria que a noite que se fazia a porta de casa. Não tinha um amor a época do amor e naquela noite, apenas foi para respeito da avó que se encontrava acamada. O pensamento dele era simples: Já perdi uma avó, não quero perder a outra também. E enquanto todos se reuniam na sala, junto da lareira, da televisão e até junto do cão, ele estava no quarto com a avó, que lhe contava outra vez a história do carvão que se oferecia naquelas alturas. "Era a melhor prenda, sempre dava para aquecer a noite" dizia ela sempre a sorrir. Na verdade ela só sorria na presença dele, pois todos diziam o mesmo "Está sempre triste", "Nunca quer nada e para comer é preciso obriga-la".
Sebastião era uma espécie de esperança para a avó dele. Ela olhava para ele não como um neto, ou afilhado, mas sim como um anjo ou outra coisa parecida enviada por esse ser divino superior a que ela chamava Deus, para lhe alegrar aquela noite que devia de ser de alegria. Mas aquela noite prometia ser diferente, havia algo novo nela, algo que até a altura nunca tinha acontecido. O jovem neto, no fim da bela história sorriu e disse :"Avó, esta na hora de irmos. Temos de ir". A avó não entendera a perguntou, "Ir onde filho? É noite de Natal, é aqui que devemos estar". Sebastião respondeu-lhe: "Não é aqui, alguém nos espera. Vamos". Levantando-se, pegou na sua avó, cobriu-a e levou-a na sua cadeira de rodas. Abriu a porta de serviço e saíram.
Era meia-noite quando vieram chama-los ao quarto mas ninguem estava lá. Nem Sebastião nem avó, nem ninguém. Apenas uma carta que tinha uma pena em cima. A carta tinha sido escrita com essa mesma pena e dizia:

Querida Familia

A avó está comigo, partimos esta noite para o nevoeiro que se ergueu. Quando for altura oportuna regressaremos.
Não vos preocupeis, esta era a prenda de Natal que há muito prometi a avó, voltar a ver o avô.
Obrigado a todos.

Sebastião




Quando leram a carta não quiseram acreditar. É então que entra o pai de Sebastião na sala com uma noticia triste:
-O Sebastião morreu a uma hora no hospital de cancro no estômago.
-Não é possível! Então quem jantou cá?